quarta-feira, 5 de maio de 2010

Instituição Militar Forças Armadas e Políticas do Brasil: José M. Carvalho

Foi em 31 de março de 1964. Era aluno do curso de sociologia. De repente o choque. O movimento militar, apoiado por políticos e por manifestantes religiosos e anticomunistas da classe média, derrubou o governo com simples movimentação de tropas.
- O governo, os generais do povo, os sindicatos, os partidos e movimentos de esquerda, todos desapareceram, evaporaram, não ofereceram resistência. A primeira surpresa acrescentou-se a outra: os militares não passaram o poder a seus aliados políticos como era de praxe: Vieram, Viram, Venceram e Ficaram.
- O choque da realidade política de 1964 levou José Murilo de Carvalho a estudar as Forças Armadas, questionando-se porque elas eram então relegadas a segundo plano de análise.
- Quarenta anos depois, o autor constata que “os estudos sobre militares ainda se justificam”.
Forças Armadas e Políticas do Brasil reúne textos até agora dispersos de um dos principais pesquisadores sobre a instituição militar no Brasil. Os estudos de José Murilo de Carvalho, representaram uma grande renovação no olhar sobre os militares, sendo referência, e inspiração para muitos cientistas sociais e historiadores.
- Inaugurando a coleção Nova Biblioteca de Ciências Sociais, temos aqui finalmente para a compreensão de atores sociais tão importantes na história do Brasil Republicano.
- José Murilo de Carvalho — Forças Armadas e Política do Brasil – Jorge Zahar Editor — CE 324f
—INBN 85.7110-856-0 — Os dados transcritos ficarão registrados em — “página64” www.pagina64.com.br. — Rio Grande do Sul – Brasil.

Resumo do livro Forças Armadas e Políticas do Brasil:

- Entre os exércitos latino-americanos o brasileiro foi o que herdou mais plenamente a tradição européia. O Colégio e a Academia Militar era qualidade de nobreza aos que neles quisessem ingressar.
- O Cadetismo tinha por objetivo, favorecer a entrada dos nobres no serviço militar, concedendo-lhes privilégios negados a outros grupos sociais, que em seguida recebiam posto de oficial, e vantagens financeiras.
- Os líderes tenentistas durante a Primeira República, quase totalidade era proveniente de família pobres. Os dois Távoras, Luiz Carlos Prestes, Nunes de Carvalho, Siqueira Campos, João Alberto entraram para o Exército, como único caminho disponível para continuarem os estudos.
Brigas, roubos, e bebedeiras eram freqüentes nos quartéis; a população olhava com terror a perspectiva do recrutamento.
- Pela eclosão da guerra, em 1915 Um grupo de jovens reformadores militares sugeriram e criaram a Defesa Nacional, para discussão das suas idéias. O Ministro da Guerra, José Caetano de Faria nomeou um destes oficiais como Oficial- de Gabinete.
- Olavo Bilac filho de militar, plenamente aceito nos meios civis, colocou o fim do “divórcio monstruoso” entre Exército e povo.
- O que na verdade produzia a escola eram bacharéis fardados a competir com os bacharéis sem fardas das escolas de Direito. Estes oficiais gostavam de ser chamados de doutores dentro do próprio Exército; era ”dr. General”, “dr. Tenente”, ou simplesmente “seu doutor”.
- Sua campanha dirigiu-se exatamente aos locais de concentração das elites civis, as faculdades de direito e medicina, sobretudo do centro e sul do país. Partindo daí, a seleção dos cadetes através de sorteio.
- Pelo sorteio argumentavam: “Teremos o Exército que devemos possuir: não uma casta militar, nem uma profissão militar, nem uma milícia assoldada, nem um regime militar, resta oprimido o país: mas, um Exército Nacional democrático, livre, civil, de defesa e coesão, que seja o próprio povo e o povo seja o Exército, de modo que cada brasileiro se ufane do título de “cidadão-soldado”. E a própria essência da nacionalidade”. Conclamava: “ O Exército seja o povo e o povo seja o Exército”.
- Foi criada a Liga de Defesa Nacional com o povo de representante das elites civis. No ano seguinte, exigiu-se carteira de reservista dos candidatos a cargos públicos; reorganizou-se a Confederação do Tiro de Guerra então, sob o controle do exército ampliou-se a instrução militar e havia 677 sociedades de tiro.
Este fato levou a Defesa Nacional em 1919 a reivindicar para o Estado todo o controle do processo de recrutamento. Mas o grande passo, estava dado e a transformação era irreversível. O exército de Hermes e Bilac podia contar agora com abundante e qualificado material humano, modernizar e sistematizar o treinamento, preparar reservas, promover a educação cívica.
- Só então de posse do Monopólio do serviço militar, é que o Exército começou a se tornar uma organização verdadeiramente Nacional. E a revolução de 1930 com quase todos os movimentos militares de ordem Nacional caracterizava-se por choques reais ou previstos entre tropas que vinham do Rio Grande do Sul e tropas que iam do Rio de Janeiro. Tal distribuição de forças afeta também o recrutamento de oficiais; grande parte deles era composta de filhos de militares. Oficiais: — Nordeste= 01 — SP e MF = 0 — RJ = 01 — RGS/DF = 07 — outros = 01 —exterior=12

- Um fator adicional que facilitou a formação e a manutenção do novo dispositivo foi a permanência de Getúlio Vargas na Presidência da República. Nesta posição ele se mantinha acima, embora não fora das disputas. Várias tentativas de golpe militar inclusive de Góes Monteiro, não dava em nada pelas grandes resistências tanto fora como dentro da organização.
- Lei de Segurança Nacional abril de 1935 e, Tribunal de Segurança Nacional setembro de 1936.
- A guerra trouxe exemplos dos exércitos nacionalistas fascistas, nazistas e comunistas.
Também os oficiais-generais se envolveram em manifestações políticas, em revoltas em tentativas de golpe. Seu envolvimento não era novo: era a própria marca registrada da República. Enquanto durou a
pax oligarchica, suas ambições foram contidas pela hegemonia civil. No máximo podiam competir, junto ao governo, por promoções rápidas, boas comissões, postos de prestígios.
- Agora abriam-se as janelas para vôos mais ambiciosos. Até mesmo o presidente da República passava a ser o objetivo atingível. De fato, quase todos os generais importantes da época envolveram-se em conspirações. Góes Monteiro foi um permanente candidato a Presidente da República. Em 1934, houve tentativas abertas de fazer dele um candidato de oposição a Getúlio Vargas.
- A desunião inicial dos militares permitiu a GETÚLIO VARGAS MESTRE DE MANIPULAÇÃO, utilizá-los em benefício de seus interesses políticos. Interessava ao chefe da revolução, a existência de uma força armada suficientemente forte para servir de contrapeso as remanescentes lideranças oligárquicas e às novas lideranças civis que despontavam umas não tão fortes que ameaçasse sua própria liderança. Era um jogo complexo e arriscado jogo que Getúlio Vargas se dedicou com êxito, durante quinze anos. O fortalecimento da organização militar e o controle simultâneo de seus chefes.
- A tática permitiu que Getúlio Vargas se mantivesse no poder nos momentos de crise, como a sucessão presidencial de 1934. As revoltas de 1935 e o golpe de 1937, quando Eurico Gaspar Dutra Ministro da Guerra, e Góes Monteiro, chefe do Estado maior do Exército, se sentiram com força suficiente, para dispensar a mediação de Getúlio Vargas na Implantação do Estado Novo; Góes Monteiro, estava longe de competir com Getúlio Vargas.
- Vargas era um moderador de conflitos políticos de civis e militares; existiam dois conflitos: primeiro estrutural — divisão do Exército e a Marinha, — segundo de natureza ideológica e política, Góes Monteiro erra irrequieto e dispersivo, boquirroto, politicamente ambicioso. Além do mais a morte trágica do filho em acidente de aviação em 1937 deixara-o pisicológicamente abalado e com tendência para se exceder na bebida. Não tinha condições e Administrar a realização de suas próprias idéias, teve no entanto a sorte de encontrar o companheiro perfeito; — o General Eurico Gaspar Dutra; este tímido, sem ambição política, sem pretensões intelectuais, um executor, Dutra era um disciplinador, administrador, um homem da caserna, seguia as ordens de Góes Monteiro, que confiava em sua ação.
- Em dois anos monopolizaram o controle do Ministério e do Estado Maior do Exército.
Ministério da Guerra: 1930/31 L.Castro – 1932/33 E.Cardoso – 1934 Góes - 35 J.Gomes – 1936/37/38/39/40/41/42/43/44 Dutra – 1945 Góes.
- Chefia EME: Malan – 1931 Tasso – 1932/33 A.Neves – 1934 Silveira – 1935 Pastaleão – 1936 P.Andrade – 1937/38/3940/41/42/43 Góes – 1944 Jul.Cardoso – 1945 Barcelos.
- Presidencia do Clube Militar: 1930 J.Gomes – 1931/32 Aranha – 1933/34 Dutra - 1935/36 Góes – 1937/38 Parga - 1939/40/41/42/43 Meira – 1944/45 J.Pessoa.
Grupos reforçados pela liderança de Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra:
- Parga Rodrigues, Guedes da Fontoura, Lucio Esteves, Paes de Andrade, Manoel Rabelo, José Pessoa, Horta Barbosa, Pantaleão Pessoa, Cristóvão Barcelos, Mauricio Cardoso
- Tasso Fragoso, Meira Vasconcelos, José Pessoa, Mariante, Andrade neves, Mena Barreto, João Gomes, Valdomiro Lima.
- Os dois ocuparam posições chaves desde 1933 no Ministério da Guerra, na chefia do Estado – Maior do Exército, e na presidência do Clube Militar. Falando sobre o ambiente na Escola Militar, nessa época uma testemunha afirma: “Naquele tempo entrar na política era uma coisa perigosa. Havia muito choque”.

- Em 1943 Getúlio Vargas criou a Legislação Trabalhista, social e sindical sendo apoiado por todos os partidos inclusive o partido comunista. Foi a causa imediata do divórcio entre Getúlio Vargas e as Forças Armadas então, tomadas pelo anticomunismo e pela pretensão de guiar o Estado. Em 1945, ficaram contra Getúlio Vargas os principais entre seus antigos auxiliares como os generais Góes Monteiro, Gaspar Dutra, Canrobert, tidos sempre como simpatizantes do Eixo, e contrários ao aumento de 100%, concedido ao salário mínimo, pelo Ministro do Trabalho João Goulart, e receio a política trabalhista.
- Em 1954 os acontecimentos se precipitaram. Em fevereiro, foi publicado o “Memorial dos Coronéis“, assinado por 82 oficiais superiores lotados no Rio de Janeiro, concentrados no Estado – Maior do Exército e na Escola Superior de Guerra. Foi redigido pelo coronel Golbery de Couto e Silva, o “Memorial” punha ênfase na precariedade da situação funcional do Exército, com queixas contra a insuficiência de verbas, a falta de estímulo profissional, os baixos vencimentos, a desunião. Mas segundo admitem pessoas ligadas aos signatários, a finalidade principal, era atingir João Goulart, ministro do Trabalho, cujo projeto de aumento de 100% do salário mínimo era criticado no final do ”Memorial”, na pessoa de Goulart, o alvo era o mesmo de sempre a alegada influência comunista nas Forças Armadas e no país, tolerada (dizendo eles) pelo então presidente.
- Na realidade, o “Memorial” pretendia incentivar os generais a uma ação anti-Vargas. Em seguida deu-se a morte do major Rubens Vaz quando foi a gota d’água.
- Afonso Arinos aos gritos histéricos na câmara pedia a renúncia de Getúlio Vargas.
- A luta contra o fantasma de Getúlio Vargas continuou.
- Constituiu assim, a nova facção Militar, integrada da hierarquia Militar na qual o grupo anti-Vargas se escondia atrás dos interesses de toda a organização.
Os partidários Militares de Getúlio Vargas não tiveram forças para reagir. Estava em andamento o Golpe de 1964.
“pagina64”
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